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Camus, Estado de sítio



Os homens não estão em ordem, estão em fila. Bem alinhados, a fisionomia plácida, maduros para a calamidade. (Camus, ‘Estado de sítio’)

Mais vale ser cúmplice do Céu, do que sua vítima. (Camus, ‘Estado de sítio’)

Os bons governos são aqueles em que coisa alguma acontece. (Camus, ‘Estado de sítio’)

Economiza teu desprezo. Precisarás dele um dia. (Camus, ‘Estado de sítio’)

Estou acima de todas as coisas, porque nada desejo. (Camus, ‘Estado de sítio’)

Nada é bom, quando é novo. Nós, alcaides, autorizados pela sabedoria e pelos anos, desejamos, particularmente, crer que nossos bondosos pobres não se permitem fazer ironia. A ironia é uma virtude destrutiva. Um bom governador prefere os vícios que constroem.

Quanto menos compreenderem, tanto melhor marcharão. (51)

O mar já viu e já cobriu muitos governos. (54)

Nossos corações não eram inocentes, mas nós amávamos o mundo e seus verões – e isso nos deveria ter salvo! (58)

Eu reino. É um fato. É, portanto, um direito. (58)

O grande princípio de nosso governo é, justamente, que sempre se tem necessidade de um certificado. Podemos passar sem pão, sem mulher, mas um atestado em regra, que certifique não importa o que, eis aí uma coisa de que não nos poderíamos privar. (64-5)

Suprimamos, suprimamos! É a minha filosofia. Deus nega o mundo e eu nego Deus. Viva o nada – pois é a única coisa que existe. (71)

Nossa convicção é de que sois culpados. E vós vos sentireis culpados, quando vos sentirdes fatigados. O processo é cansar – eis tudo. Quando estiverdes arrasados de cansaço, o resto caminhará sozinho. (73).

Viva o nada! Ninguém se compreende mais: atingimos o instante perfeito. (83)

Nós nos tornamos prudentes. Estamos administrados. Mas, no silêncio dos escritórios, escutamos um longo grito contido, que é o grito dos corações separados (...). Nossas faces estão seladas, nossos passos contados, nossas horas regulamentadas, mas nossos corações recusam o silêncio. Recusam as listas e as matrículas, os muros intermináveis, as grades nas janelas, as madrugadas eriçadas de fuzis. 85

Marcai-os, a todos! Mesmo o que eles não dizem pode ser ouvido! Não podem protestar, mas seu silêncio range. Esmagai suas bocas! Amordaçai-os e ensinai-lhes a dizer as palavras permitidas, até que também eles repitam, sempre, a mesma coisa, até que se tornem os bons cidadãos de que necessitamos. 86

Não podeis decidir tudo. A dor tem, também, os seus direitos. 87

O juiz: ‘Não sirvo à Lei pelo que ela diz, mas sim porque ela é a Lei’. Diogo: Mas, e se a lei for o crime?’. O juiz: ‘Se o crime torna-se lei, ele deixa de ser crime’. Diogo: ‘E será, então, a virtude que se deve punir?’. O juiz: ‘É preciso puni-la, com efeito, se tiver a arrogância de discutir a lei’. 88

A honra é um assunto de homens – e não há mais homens nesta cidade. 90

Nada é covardia na cidade dos covardes. 90

Tu que estás próximo da morte, tu sabes bem que nada há a desejar, sobre a terra, além do sono e da paz. (92)

Pois eu cuspo sobre tua lei. Tenho a meu favor, o direito. (92)

O direito, ouve bem, (...), está do lado dos que sofrem, dos que gemem, dos que esperam. Ele não está, não, ele não pode estar com aqueles que calculam e acumulam. (93)

E o farei com duplo contentamento, porque o farei em nome da lei e do ódio. (94)

Nunca julgaste senão em nome do ódio, que enfeitavas com o nome de lei. E mesmo as melhores leis tiveram gosto amargo em tua boca – a boca acre dos que nunca souberam amar. (94)

Não vou sobrecarregar-me com a dor do mundo! É uma tarefa para homem. Uma dessas tarefas vãs, estéreis, obstinadas, que os homens assumem para se desviarem do único combate verdadeiramente difícil, da única vitória da qual poderiam orgulhar-se. (101)

Está com a razão aquele que não tem medo. (102)

Cem mil homens – eis o que se torna interessante. É uma estatística e as estatísticas são mudas. Curvas e gráficos, hein? Trabalhar sobre as gerações é muito mais fácil. E o trabalho pode ser feito no silêncio e no odor tranqüilo da tinta. Mas eu vos previno: um homem só é mais incômodo – porque ele grita sua alegria e agonia. (111)

Cada um de nós está sozinho graças à covardia dos outros. (112)

Ser regulamentar, ou não ser regulamentar, eis toda a moral e toda a filosofia. (122)

Não compete mais ao povo fazer a revolução: seria muito fora de moda. As revoluções não têm mais necessidades de insurretos. A polícia, hoje, é suficiente, para tudo – mesmo para derrubar o governo. (126)

Minha vida não é nada. O que conta são as razões da minha vida. Não sou um cão. (134)

Veste teus homens livres com o uniforme da minha polícia e verá em que eles se transformam. (138)

Homem algum tem bastante virtude para que se lhe possa ser permitido o poder absoluto. (138)

Eu tinha sede de honra. Então só poderei encontrar a honra, hoje, entre os mortos? (139)

Quando o ódio me queima, o sofrimento do outro é um orvalho, para mim. (140)

O ideal está em obter uma maioria de escravos, com a ajuda de uma minoria de mortos bem escolhidos. (144)

A crueldade revolta, mas a estupidez desanima. (144)

Perdi toda a ternura, nesse combate. Não sou mais um homem e é justo que eu morra. (146)

Ei-los! Os antigos chegam! Os de antes, os de sempre, os petrificados, os tranqüilos, os confortáveis, os boas-vidas, os bem cuidados – a tradição, enfim, sentada, próspera, barbeada de fresco. O alívio é geral e vai ser possível recomeçar. Na estaca zero, naturalmente. Eis aqui os pequenos alfaiates do nada: sereis vestidos na sua medida. Mas não vos agiteis: seu método é o melhor. Em lugar de fechar as bocas dos que gritam sua desgraça, fecham seus próprios ouvidos. (148)

Os governos passam, a polícia fica. Há, portanto, uma justiça. (148)

19/04/2013 11:16